9. "Se eu pudesse deixar de correr..."
Caminhava se eu pudesse deixar de caminhar
Sentava-me à sombra da nogueira azul do céu
Se eu pudesse deitar-me deitava-me
Numa cova com a forma do meu corpo em
Repouso se eu pudesse deixar de cantar
Fechava os olhos e olhava o alto vazio
Onde não acontece nada a não ser
A conciliação provisória do caos
E da luz que não se cansa de nascer.
(Casimiro de Brito, Na Via Do Mestre)
É talvez um dos meus poemas predilectos deste homem que é poeta algarvio, mas também "romancista, contista e ensaísta" (http://casimirodebrito.no.sapo.pt/portugues/index.htm).
Como diz bem o velho ditado, "Parar é morrer.",... mas às vezes não dá vontade de simplesmente contemplar a beleza das pequenas coisas que existem em nosso redor?... Há sempre tanto para fazer e, ao mesmo tempo, para apreciar, revisitar, deslumbrar...temos tão pouco tempo para tudo...*
8. Amuleto para a Alma...
Escutei um dia aquela voz,
cuja vibração me acolhia.
E então fui saber,
se podia,
aquela voz que me acolhia
apagar eternamente
aquele tormento
que sobre mim recaía.
E assim,
a escuridão que existia
mas que parecia não sumir,
depressa,
e apenas num só dia,
começou a sair
de dentro de mim.
Então suspirei
e perguntei -
De onde vinha aquela voz,
que um dia senti
e me confortou…
E num instante apagou
aquela inquietação
presente no meu coração…
Mas foi então que percebi,
e compreendi,
que aquela voz
que um dia me sorriu,
e aplaudiu,
tinha estado sempre aqui,
dentro de mim.
É um sinal que se fez
e está presente.
É uma força que não vês
porque parece ausente.
É virtude de quem busca a vida
e não se cansa.
Sempre erguida,
irradia esperança!
Susana Barão
7. "...sobre o mar."
Escuto aquele silêncio insistente
que num esbater de ondas é quebrado.
E fui sonhar,
relembrar…
A substância misteriosa
escondida naquela harmoniosa
cantiga indefinida
que os homens respiram,
saúdam,
contemplam:
Sois profundo e intenso,
infinitamente enigmático.
Porque em ti todos os segredos se escondem –
Porque os guardas…
Não os desvendas…
É para ele que me dirijo,
se a nostalgia me invadiu.
É para ele que me viro,
se uma inquietação me consumiu:
Sois um fascínio,
somente beleza -
porque existes,
com certeza.
Sois a mistura de um abrigo
entrelaçado infindavelmente
numa força resistente.
Sois vida,
Sois natureza!
Susana Barão
6. Desilusão.
Caminho iluminado
Definida a incerteza
Daquele sentimento
Puro, imprevisível
Impossível –
Pensava eu – no meu ser.
É sublime e encantador
É diferente e arrebatador
Embora, também, assustador…
Uma verdade aproxima-se
Um desalento...vem uma dor.
Sofrimento
Descontentamento
Desolador…
Aquele fervor…
Aquela cor…
Acabou.
Foste…a minha ilusão.
Uma luz que se acendeu
E que agora se apagou.
Foste…és agora…a minha desilusão.
Susana Barão
5. Laços.
4. Expressão.
Todo um olhar sobre o meu corpo – intenso.
Inspiro, olho, desço, recomeço…
Ergue-se a mão, soltam-se os dedos.
Liberta dos meus medos…
Caminho, deslizo…por entre ventos.
Olho, desço, recomeço…
Relembro a suavidade desse lenço….
Recriação – daqueles momentos…
Sem medos: assim venço! …
Desço, olho, inspiro, levanto…
Emoções despertas, ilusões invadem…
Como vibram – dão azo aos movimentos…
De um corpo que uma alma guarda
De uma alma que um sentido esconde.
E então, num instante digo e amparo
Por entre gestos, por entre versos
Aquela dança que me invade,
Aquela força que me inventa…
Grita forte, alma cantante:
Assim expresso a minha vontade.
Uma lembrança que perdura,
Foi uma conquista, uma loucura.
Foi o despertar eminente daquele desejo
A descoberta da minha eterna…pura…essência!
Susana Barão
3. Porque é bom saber com aquilo que podemos contar...
Dói, dói muito,
Há sempre a metáfora pelo caminho.
Porém, há que dizê-lo,
mesmo assim:
Antes a leveza provisória
que nenhuma.
Almerinda Teixeira, in Figueira-do-Inferno
(a verdade que era mentira, a ilusão tornada desilusão...o ser humano sente e o sentimento de dor pode por vezes surgir...mesmo que subtil, é sempre preferível saber...)
2. "Se".
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
1. Certezas...
“De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que é preciso continuar, a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar. Portanto, devemos: fazer da interrupção um caminho novo, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro.”
Fernando Pessoa